Ontem, participei do XVIII Encontro Internacional de Educação do Mercosul. Durante o dia, estive em contato com palestrantes feras, como Celso Antunes e Thereza Penna. Ao final da fala de Antunes saí da SAPP com muita vontade de chorar, mas não eram apenas lágrimas, era uma vontade de chorar, chorar como crianças, colocando para fora vinte e poucos anos de uma educação que poderia ter sido diferente. A verdade é que você até tentou, que você fez de tudo para dar certo, mas que, infelizmente, voou sozinha, ou para não ser injusta, quase sozinha.
De tarde, ("Maria") Thereza Penna nos falou de avaliação, e foi nesse momento, que confessei a minha colega, sobre duas crianças que o sistema me obrigou a reprovar e que até hoje sofro por isso.
Ouvir que aquelas frases que dissemos - talvez para amenizar o nosso remorso - como é bom para o aluno reprovar para poder amadurecer são mitos criados por nós educadores e que poderíamos reverter esse quadro.E possível, é só ter coragem, co-ra-gem, para criar situações de vitória e não de derrotas. Novamente, senti muita vontade de chorar. Quantas vezes, a Thousand times, sugeri formas de tentar recuperar crianças que chegam no 6° ano sem saber ler. E o que fazemos? O reprovamos, um, dois, três anos. Ficamos nos duelando em silêncio, até que a criança desiste e abandona a escola. O maior problema da indisciplina é -e eu repito isso há anos - o analfabetismo funcional. A criança, para não se expor perante seus colegas, às vezes mais novos do que eles, perturba a aula. O que fazemos? O expulsamos da escola. Seria tão simples, muito simples. Programas de aceleração. Mas não aceleração como fazemos, esse também joga o aluno para fora dessa nossa roda que gira em alta velocidade.
Então, depois de tantas reflexões, de tantas mexidas nas minhas gavetas interiores, eu tinha uma missão à noite. Apresentar o meu trabalho sobre "A importância dos feriados nacionais no entorno escolar". Falar sobre a nossa escola do coração "Antonio Francisco" é se emocionar. Eu estava angustiada, e me dizia, all the time, why? Eu sabia por quê? Não tem como não se emocionar falando de nossa escola, tudo por lá é intenso. Só quem já trabalhou na Figueirinhas entende o que eu estou falando. Tentei o tempo todo me controlar, mas no final não aguentei e me emocionei. Fiquei com uma mistura de sentimentos. Não queria ter me emocionado, sou uma pessoa muito crítica, fico o tempo todo imaginando o que as pessoas concluiriam. Chorou por que foi uma atividade gratificante? Sim, foi muito gratificante, por que falar sobre fé, esperança e amor, é mexer com as tuas crenças e com as crenças dos outros. Chorou por que não tem controle? Talvez, depois de tanto que ouvi e de tantas lembranças e revoltas que provoquei em mim mesma, perdi o controle da minha emoção. Algumas pessoas não se permitem emocionar, não é o meu caso, mas não me perdoei até agora, por essa emoção, por essa exposição.
Mas, eu sei qual foi o motivo. Enquanto apresentava o nosso relato de experiência, lembrei-me de todas aquelas crianças que estão lá na Antônio Francisco, que são jogadas para fora da escola, que são expulsas ou descriminadas por suas condições físicas ou intelectuais. Nós a aceitamos de braços abertos, mostramos a elas que é possível sim, aprender, não o aprender igual a todos os outros, não o aprender a ler, mas o aprender a conviver, o aprender a ter, e isso, minha gente é muito emocionante.
So, que venham as lágrimas, mas as lágrimas de saber que você, e junto com as Elisas, Luísas, Sirleis, Maristelas, Sandras, karinas, os Denis, Nazarenos, Robertos, Andréias, Cristinas e muitos outros, fizemos a nossa parte como educadores e como cidadãos e ainda continuamos fazendo.