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domingo, 23 de outubro de 2011

Que venham as lágrimas...


 

Ontem, participei do XVIII Encontro Internacional de Educação do Mercosul. Durante o dia, estive em contato com palestrantes feras, como Celso Antunes e Thereza Penna. Ao final da fala de Antunes saí da SAPP com  muita vontade de chorar, mas não eram apenas lágrimas, era uma vontade de chorar, chorar como crianças, colocando para fora vinte e poucos anos de uma educação que poderia ter sido diferente. A verdade é que você até tentou, que você  fez de tudo para dar certo, mas que, infelizmente, voou sozinha, ou para não ser injusta, quase sozinha.

De tarde, ("Maria") Thereza Penna nos falou de avaliação, e foi nesse momento, que confessei a minha colega, sobre duas  crianças que o sistema me obrigou a reprovar e que até hoje sofro por isso. 
Ouvir que aquelas frases que dissemos - talvez para amenizar o nosso remorso -  como é bom para o aluno reprovar para poder amadurecer são mitos criados por nós educadores e que poderíamos reverter esse quadro.E possível, é só ter coragem, co-ra-gem, para criar situações de vitória e não de derrotas. Novamente, senti muita vontade de chorar. Quantas vezes, a Thousand times, sugeri formas de tentar recuperar crianças que chegam no 6° ano sem saber ler. E o que fazemos? O reprovamos, um, dois, três anos. Ficamos nos duelando em silêncio, até que a criança desiste e abandona a escola. O maior problema da indisciplina é -e eu repito isso há anos - o analfabetismo funcional. A criança, para não se expor perante seus colegas, às vezes mais novos do que eles, perturba a aula. O que fazemos? O expulsamos da escola. Seria tão simples, muito simples. Programas de aceleração. Mas não aceleração como fazemos, esse também joga o aluno para fora dessa nossa roda que gira em alta velocidade.

Então, depois de tantas reflexões, de tantas mexidas nas minhas gavetas interiores, eu tinha uma missão à noite. Apresentar o meu trabalho sobre "A importância dos feriados nacionais no entorno escolar". Falar sobre a nossa escola do coração "Antonio Francisco" é se emocionar. Eu estava angustiada, e me dizia, all the time, why? Eu sabia por quê? Não tem como não se emocionar falando de nossa escola, tudo por lá é intenso. Só quem já trabalhou na Figueirinhas  entende o que eu estou falando. Tentei o tempo todo me controlar, mas no final não aguentei e me emocionei. Fiquei com uma mistura de sentimentos. Não queria ter me emocionado, sou uma pessoa muito crítica, fico o tempo todo imaginando o que as pessoas concluiriam. Chorou por que foi uma atividade gratificante? Sim, foi muito gratificante, por que falar sobre fé, esperança e amor, é mexer com as tuas crenças e com as crenças dos outros. Chorou por que não tem controle? Talvez, depois de tanto que ouvi e de tantas lembranças e revoltas que provoquei em mim mesma, perdi o controle da minha emoção. Algumas pessoas não se permitem emocionar, não é o meu caso, mas não me perdoei até agora, por essa emoção, por essa exposição. 

Mas, eu sei qual foi o motivo. Enquanto apresentava o nosso relato de experiência, lembrei-me de todas aquelas crianças que estão lá na Antônio Francisco, que são jogadas para fora da escola, que são expulsas ou descriminadas por suas condições físicas ou intelectuais. Nós a aceitamos de braços abertos, mostramos a elas que é possível sim, aprender, não o aprender igual a todos os outros, não o aprender a ler, mas o aprender a conviver, o aprender a ter, e isso, minha gente é muito emocionante. 

So, que venham as lágrimas, mas as lágrimas de saber que você, e junto com as Elisas,  Luísas, Sirleis,  Maristelas, Sandras, karinas, os Denis, Nazarenos, Robertos, Andréias, Cristinas e muitos outros, fizemos a nossa parte como educadores e como cidadãos e ainda continuamos fazendo.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Dia Nacional do Surdo

Nesta segunda-feira (26), data em que se comemora o Dia Nacional do Surdo.
Neste vídeo fica bem claro como deve ser dificil não ser compreendido.



domingo, 25 de setembro de 2011

A evolução


Adorei esses vídeos Eles  fazem  parte de um trabalho que estou realizando no meu Curso de Especialização Mídias na Educação - UFRGS

O que é ser professor hoje.




O que é ser professor?



           
Muitos professores marcaram minha vida tanto positivo quanto negativamente, mas decidi falar sobre um professor que me ensinou muito.  O Professor Arli Borba, saudoso Professor Arli, que não está mais entre nós, certamente, está ensinando em outras esferas da vida. Lembro-me dele com muito carinho, advogado, mas nos ensinava sobre agricultura. As minhas recordações me levam as  histórias que nos contava nas suas aulas, embaixo das árvores centenárias da Escola Estadual de Ensino Médio Ildefonso Simões Lopes, mais conhecida como Escola Rural. Histórias com um fundo moral, histórias de vidas reais ou não tão reais que escutávamos como se estivéssemos alimentando a nossa alma.  Vem dele a minha mania de sempre contar uma história quando quero ensinar algo que foge do conteúdo formal.     
            Vejo que o professor tenta continuar sendo o mesmo de anos atrás. Estamos vivendo uma mudança muito grande de valores e, por causa disso, há muitas situações que antes não eram aceitas sendo perdida ou modificada. Existe uma frase que diz que as escolas são do século XIX, os professores do século XX e os alunos do século XXI. Vejo a educação dessa forma. Os professores estão em constante aperfeiçoamento, mas não conseguem mudar a sua prática diária. Estamos vivendo a era do inconformismo, do desestímulo, poucos conseguem modificar ou fazer a diferença.
            Acredito que quando decidimos por uma profissão,  com certeza, ela é escolhida por ser uma missão, um sacerdócio. Quem quando criança não brincou de ser professor (a)? Mas, podemos sim, nos tornar professores após uma caminhada em outra profissão.
 Eu me tornei professora. A minha história começa assim: Meu pai era proprietário de uma empresa que vendia materiais de construções. Eu cresci neste ambiente, entre tijolos, pedras, telhas, etc. Sempre dizia que seria arquiteta. Fui morar em Osório, ingressei na Escola Rural para cursar o segundo  grau. Pensando em um vestibular... No segundo ano vinte e três alunos da minha turma foram reprovados, inclusive eu. Decidi fazer Magistério.
No início foi apenas uma profissão mais fácil e rápida, eu pretendia casar  e vir morar no Pinhal. Hoje, quando olho para trás vejo que tudo valeu a pena, nada foi em vão. Eu não poderia ter escolhido outra profissão. Ser professora é a minha vocação.

por Eloise Ferreira Faistauer de Borba
Pós Graduação Lato Sensu em Modalidade a Distância
Espaços e possibilidades para a educação continuada
 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Arteterapia: uma nova escolha profissional

 


Arteterapia surgiu na minha vida e veio para ficar. Neste vídeo eu mostro um pouquinho do que estou fazendo em uma escola que amo muito.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Quem nunca rabiscou em um papel que atire a primeira pedra...

 Atividade 9
 
Apresentar no encontro presencial final produtos que resultam de atos de criação, muitas vezes escondidos em pensamentos, gavetas, guarda-roupas, estantes...

          Quem nunca rabiscou um pedaço de papel que atire a primeira pedra, ou melhor, a primeira folha amassada.

          Existem pessoas que quando  falam ao telefone desenham ou rabiscam alguma coisa. Se formos fazer um análise desses desenhos, eles poderão nos dizer muito. O ato de desenhar ou rabiscar  é inerente ao ser humano. Alguns desenhos o repetimos por vários anos.  A verdade é que desde  pequenos nos comunicamos com o mundo através de nossos desenhos.

 
             Essa situação comum do dia-a-dia não passou desapercebida e  para Winnicott, um grande observador do ser humano,  deu grande destaque a essa expressão livre e criou  o Jogo do Rabisco, que é uma forma de comunicação, um meio de se entrar em contato com o si mesmo da pessoa que joga. Nas palavras do autor: “É simplesmente um método para estabelecer contato com um paciente infantil” (WINNICOTT, 1994, p. 231).
 
          Quando iniciei o  pós, em Arteterapia, descobri que gostava de desenhar. Meus cadernos, polígrafos, bilhetes, qualquer coisa virava tela de pintura.  Comecei a notar que isso me acalmava. Sou muito agitada, não gosto de permanecer parada por muito tempo, gosto de me movimentar, gosto de falar, de dar a minha opinião e nem sempre isso é possível.  Então comecei a desenhar e gostei dos desenhos. No início somente usava o lápis comum, depois passei a ter junto de mim, lápis de cor ou giz de cera. Em qualquer lugar que eu esteja há uma caixa dessas, no carro, na bolsa, no apartamento do meu filho, no caminhão do meu marido, etc.


O rabisco pode mostrar a maneira como o self 
se apresenta   no mundo, não acabado, e esta 
é a grande questão do objeto subjetivo. 
Winnicott define o objeto subjetivo como aquele 
que se forma no psiquismo humano e que pode 
tornar presentes a aspiração e a esperança 
da realização de si. 
(Rabiscando para ser: do si mesmo para o papel Beatriz Pinheiro Machado Mazzolini)


         Só que, a tecnologia, a cada dia, nos surpreende e eu descobri em meu telefone um "Painel de desenho". No início eu achava que só havia a possibilidade de desenho na cor preta, mas explorando vi que podia realizar desenhos coloridos. A partir desse momento,  imaginação passou a ser a personagem principal dessa história.













Desenhos de minha autoria, realizados no celular LG, programa "Painel de desenhos"


“O essencial da arte é exprimir: o que se exprime não interessa.” (Fernando Pessoa)


segunda-feira, 11 de julho de 2011

O professor de ontem e de hoje...

Escola Antonio Francisco - 2010

por Eloise Faistauer Borba




         Quando criança nunca imaginei ser professora.  Quando perguntavam o que queria ser quando crescesse, sempre respondia, quero ser arquiteta, quero desenhar e decorar casas e jardins. 
Pré-  Calil  (1987)
Quando criança temos sonhos totalmente diferente da fase adulta. Quem de nos não imaginou uma profissão e hoje está em outra completamente diferente. Há aqueles que seguiram seus sonhos, mas não é o meu caso.
Fui ser professora porque queria casar e vir morar em uma praia ainda em desenvolvimento. Parecia ser  a melhor profissão naquele momento.
Sou  professora porque escolhi ser. Amo muito esse sacerdócio. Ensinar não é fácil. Sou professora por vocação.
Há alguns anos  atrás, quando em uma família a filha comunicava aos pais que queria ser professora, era uma alegria. Muitas se tornaram educadoras porque a família acreditava que essa era a única profissão para mulheres  aceita pela sociedade.
Hoje quando em  uma família alguém – porque hoje essa profissão deixou de ser exclusiva para mulheres -  decide ser professor alguns dos motivos da escolha  é por que não pode arcar com as despesas de uma profissão mais glamorosa, ou porque  foi um aluno de notas baixas, poucos, muito poucos escolhem ser professor por talento. 



Agente Jovem - Túnel Verde (2008)
Este mês é o mês  do professor. Não recebi nenhuma mensagem de nenhum aluno, de nenhum familiar. É um dia qualquer. As mensagens enviadas por órgãos públicos e até mesmo pelos colegas e equipes não nos fazem sentir melhor. As palavras ditas são sempre as mesmas, profissão difícil, mal remunerada, mas há sempre alguém que ouviu as suas palavras e segue seu exemplo. Nada incentivador para alguém que não aguenta mais o fardo que assumiu.
Quando iniciei minha carreira era audaciosa, corajosa queria fazer a diferença, não me importava com os obstáculos.  Hoje estou cansada, desanimada, infeliz e doente, muito doente.






Agente Jovem - Túnel Verde (2008)
Sinto saudade da época em que eu era PROFESSORA. Hoje sou vaquinha de presépio. Hoje sou o que os outros querem que eu seja, eles  decidem o que eu irei ensinar, qual horário irei sair, quantos dias darei aula. Aula, o que é isso mesmo? Há quanto tempo não dou uma aula decente? Há quanto tempo estou deixando de dar aula para participar de Festi- qualquer coisa, Olimpíada da (insira o que você quiser), inauguração das casinhas lá no fim do mundo... Viramos animador de festas, público de inaugurações, salvadores de eventos que já nasceram fracassados.
Sei que é um desabafo pessoal, sei que estou olhando somente para o meu quadrado. Talvez  muitos dos meus colegas comunguem da minha mesma opinião, outros acham até melhor não ter que enfrentar os alunos. Por que é isso o que estamos fazendo dia a dia, enfrentando alunos que não estão nem ai para a aprendizagem. E que aprendizagem é essa? Enchemos o quadro com um texto,  perguntas, se der tempo corrigimos, senão fica assim mesmo. Um mês depois prova. Se o professor é bonzinho com consulta.
O discurso é sempre o mesmo:

EJA - Calil (2006)
“Não é por falta de vagas. É por falta de estímulos, valorização e respeito social na carreira de professor, elementos incompatíveis com a responsabilidade deles. Os salários cada vez mais baixos e a autoestima cada vez mais comprometida, desmotiva novos candidatos e os veteranos abandonam pouco a pouco a profissão procurando alternativas de sobrevivência econômica, pois nem livros podem comprar para se reciclar. Livros ou a feira! Não se trata de nenhuma escolha difícil de ser resolvida.  O país pelo segundo ano consecutivo teve queda importante – 4,5% – do número de jovens candidatos para cursos ligados ao Magistério (ciências sociais, letras, geografia, química e filosofia).”



Sabemos o motivo, mas porque não buscamos  a solução?


5° ano - Escola Calil  (2007)

Demerval Saviani, o mais conhecido pedagogo brasileiro, defende em entrevista à Rubra, que a escola não é um «lar», um prolongamento da família, mas sim um espaço onde os nossos filhos se preparam cientificamente, onde aprendem a conhecer o que de melhor no campo da ciência, da arte, da cultura a humanidade produziu. Há muito para aprender a sério. Ao professor deve ser devolvida a sua função: ensinar.




Mudanças precisam ocorrer, é fato. Respostas ainda não temos e talvez nunca as tenhamos. A realidade mudou e precisamos inclusive perguntar se a instituição escolar, tal como a conhecemos hoje, não está com seus dias contados.
 Texto criado em outubro/2010 para o módulo  
A Pós-modernidade e o Contemporâneo - Expressão necessária: arte, literatura e filosofia

Pós Graduação Lato Sensu em Modalidade a Distância
Espaços e possibilidades para a educação continuada

Fotos: Arquivo pessoal