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segunda-feira, 11 de julho de 2011

O professor de ontem e de hoje...

Escola Antonio Francisco - 2010

por Eloise Faistauer Borba




         Quando criança nunca imaginei ser professora.  Quando perguntavam o que queria ser quando crescesse, sempre respondia, quero ser arquiteta, quero desenhar e decorar casas e jardins. 
Pré-  Calil  (1987)
Quando criança temos sonhos totalmente diferente da fase adulta. Quem de nos não imaginou uma profissão e hoje está em outra completamente diferente. Há aqueles que seguiram seus sonhos, mas não é o meu caso.
Fui ser professora porque queria casar e vir morar em uma praia ainda em desenvolvimento. Parecia ser  a melhor profissão naquele momento.
Sou  professora porque escolhi ser. Amo muito esse sacerdócio. Ensinar não é fácil. Sou professora por vocação.
Há alguns anos  atrás, quando em uma família a filha comunicava aos pais que queria ser professora, era uma alegria. Muitas se tornaram educadoras porque a família acreditava que essa era a única profissão para mulheres  aceita pela sociedade.
Hoje quando em  uma família alguém – porque hoje essa profissão deixou de ser exclusiva para mulheres -  decide ser professor alguns dos motivos da escolha  é por que não pode arcar com as despesas de uma profissão mais glamorosa, ou porque  foi um aluno de notas baixas, poucos, muito poucos escolhem ser professor por talento. 



Agente Jovem - Túnel Verde (2008)
Este mês é o mês  do professor. Não recebi nenhuma mensagem de nenhum aluno, de nenhum familiar. É um dia qualquer. As mensagens enviadas por órgãos públicos e até mesmo pelos colegas e equipes não nos fazem sentir melhor. As palavras ditas são sempre as mesmas, profissão difícil, mal remunerada, mas há sempre alguém que ouviu as suas palavras e segue seu exemplo. Nada incentivador para alguém que não aguenta mais o fardo que assumiu.
Quando iniciei minha carreira era audaciosa, corajosa queria fazer a diferença, não me importava com os obstáculos.  Hoje estou cansada, desanimada, infeliz e doente, muito doente.






Agente Jovem - Túnel Verde (2008)
Sinto saudade da época em que eu era PROFESSORA. Hoje sou vaquinha de presépio. Hoje sou o que os outros querem que eu seja, eles  decidem o que eu irei ensinar, qual horário irei sair, quantos dias darei aula. Aula, o que é isso mesmo? Há quanto tempo não dou uma aula decente? Há quanto tempo estou deixando de dar aula para participar de Festi- qualquer coisa, Olimpíada da (insira o que você quiser), inauguração das casinhas lá no fim do mundo... Viramos animador de festas, público de inaugurações, salvadores de eventos que já nasceram fracassados.
Sei que é um desabafo pessoal, sei que estou olhando somente para o meu quadrado. Talvez  muitos dos meus colegas comunguem da minha mesma opinião, outros acham até melhor não ter que enfrentar os alunos. Por que é isso o que estamos fazendo dia a dia, enfrentando alunos que não estão nem ai para a aprendizagem. E que aprendizagem é essa? Enchemos o quadro com um texto,  perguntas, se der tempo corrigimos, senão fica assim mesmo. Um mês depois prova. Se o professor é bonzinho com consulta.
O discurso é sempre o mesmo:

EJA - Calil (2006)
“Não é por falta de vagas. É por falta de estímulos, valorização e respeito social na carreira de professor, elementos incompatíveis com a responsabilidade deles. Os salários cada vez mais baixos e a autoestima cada vez mais comprometida, desmotiva novos candidatos e os veteranos abandonam pouco a pouco a profissão procurando alternativas de sobrevivência econômica, pois nem livros podem comprar para se reciclar. Livros ou a feira! Não se trata de nenhuma escolha difícil de ser resolvida.  O país pelo segundo ano consecutivo teve queda importante – 4,5% – do número de jovens candidatos para cursos ligados ao Magistério (ciências sociais, letras, geografia, química e filosofia).”



Sabemos o motivo, mas porque não buscamos  a solução?


5° ano - Escola Calil  (2007)

Demerval Saviani, o mais conhecido pedagogo brasileiro, defende em entrevista à Rubra, que a escola não é um «lar», um prolongamento da família, mas sim um espaço onde os nossos filhos se preparam cientificamente, onde aprendem a conhecer o que de melhor no campo da ciência, da arte, da cultura a humanidade produziu. Há muito para aprender a sério. Ao professor deve ser devolvida a sua função: ensinar.




Mudanças precisam ocorrer, é fato. Respostas ainda não temos e talvez nunca as tenhamos. A realidade mudou e precisamos inclusive perguntar se a instituição escolar, tal como a conhecemos hoje, não está com seus dias contados.
 Texto criado em outubro/2010 para o módulo  
A Pós-modernidade e o Contemporâneo - Expressão necessária: arte, literatura e filosofia

Pós Graduação Lato Sensu em Modalidade a Distância
Espaços e possibilidades para a educação continuada

Fotos: Arquivo pessoal

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