Escola Antonio Francisco - 2010 |
por Eloise Faistauer Borba
Quando criança nunca imaginei ser professora. Quando perguntavam o que queria ser quando crescesse, sempre respondia, quero ser arquiteta, quero desenhar e decorar casas e jardins.
Pré- Calil (1987) |
Quando criança temos sonhos totalmente diferente da fase adulta. Quem de nos não imaginou uma profissão e hoje está em outra completamente diferente. Há aqueles que seguiram seus sonhos, mas não é o meu caso.
Fui ser professora porque queria casar e vir morar em uma praia ainda em desenvolvimento. Parecia ser a melhor profissão naquele momento.
Sou professora porque escolhi ser. Amo muito esse sacerdócio. Ensinar não é fácil. Sou professora por vocação.
Há alguns anos atrás, quando em uma família a filha comunicava aos pais que queria ser professora, era uma alegria. Muitas se tornaram educadoras porque a família acreditava que essa era a única profissão para mulheres aceita pela sociedade.
Hoje quando em uma família alguém – porque hoje essa profissão deixou de ser exclusiva para mulheres - decide ser professor alguns dos motivos da escolha é por que não pode arcar com as despesas de uma profissão mais glamorosa, ou porque foi um aluno de notas baixas, poucos, muito poucos escolhem ser professor por talento.
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Agente Jovem - Túnel Verde (2008) |
Este mês é o mês do professor. Não recebi nenhuma mensagem de nenhum aluno, de nenhum familiar. É um dia qualquer. As mensagens enviadas por órgãos públicos e até mesmo pelos colegas e equipes não nos fazem sentir melhor. As palavras ditas são sempre as mesmas, profissão difícil, mal remunerada, mas há sempre alguém que ouviu as suas palavras e segue seu exemplo. Nada incentivador para alguém que não aguenta mais o fardo que assumiu.
Quando iniciei minha carreira era audaciosa, corajosa queria fazer a diferença, não me importava com os obstáculos. Hoje estou cansada, desanimada, infeliz e doente, muito doente.
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Agente Jovem - Túnel Verde (2008) |
Sinto saudade da época em que eu era PROFESSORA. Hoje sou vaquinha de presépio. Hoje sou o que os outros querem que eu seja, eles decidem o que eu irei ensinar, qual horário irei sair, quantos dias darei aula. Aula, o que é isso mesmo? Há quanto tempo não dou uma aula decente? Há quanto tempo estou deixando de dar aula para participar de Festi- qualquer coisa, Olimpíada da (insira o que você quiser), inauguração das casinhas lá no fim do mundo... Viramos animador de festas, público de inaugurações, salvadores de eventos que já nasceram fracassados.
Sei que é um desabafo pessoal, sei que estou olhando somente para o meu quadrado. Talvez muitos dos meus colegas comunguem da minha mesma opinião, outros acham até melhor não ter que enfrentar os alunos. Por que é isso o que estamos fazendo dia a dia, enfrentando alunos que não estão nem ai para a aprendizagem. E que aprendizagem é essa? Enchemos o quadro com um texto, perguntas, se der tempo corrigimos, senão fica assim mesmo. Um mês depois prova. Se o professor é bonzinho com consulta.
O discurso é sempre o mesmo:
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EJA - Calil (2006) |
“Não é por falta de vagas. É por falta de estímulos, valorização e respeito social na carreira de professor, elementos incompatíveis com a responsabilidade deles. Os salários cada vez mais baixos e a autoestima cada vez mais comprometida, desmotiva novos candidatos e os veteranos abandonam pouco a pouco a profissão procurando alternativas de sobrevivência econômica, pois nem livros podem comprar para se reciclar. Livros ou a feira! Não se trata de nenhuma escolha difícil de ser resolvida. O país pelo segundo ano consecutivo teve queda importante – 4,5% – do número de jovens candidatos para cursos ligados ao Magistério (ciências sociais, letras, geografia, química e filosofia).”
Sabemos o motivo, mas porque não buscamos a solução?
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5° ano - Escola Calil (2007) |
Demerval Saviani, o mais conhecido pedagogo brasileiro, defende em entrevista à Rubra, que a escola não é um «lar», um prolongamento da família, mas sim um espaço onde os nossos filhos se preparam cientificamente, onde aprendem a conhecer o que de melhor no campo da ciência, da arte, da cultura a humanidade produziu. Há muito para aprender a sério. Ao professor deve ser devolvida a sua função: ensinar.
Mudanças precisam ocorrer, é fato. Respostas ainda não temos e talvez nunca as tenhamos. A realidade mudou e precisamos inclusive perguntar se a instituição escolar, tal como a conhecemos hoje, não está com seus dias contados.
Texto criado em outubro/2010 para o módulo
A Pós-modernidade e o Contemporâneo - Expressão necessária: arte, literatura e filosofia
Pós Graduação Lato Sensu em Modalidade a Distância
Espaços e possibilidades para a educação continuada
Fotos: Arquivo pessoal
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